FILME | Rei dos Reis - Contexto Histórico

 Rei dos Reis – Contexto Histórico

O filme Reis dos Reis possui uma historicidade enorme, logo é muito fácil confundir certos fatos históricos se forem baseados apenas na obra cinematográfica. Então, é interessante termos uma narração apurada dos fatos e com profundidade historicista, baseada em acurada investigação na origem dos acontecimentos. Se faz importante ressaltar que tais explanações abaixo ocorrem baseada de forma fidedigna a Bíblia (Palavra inspirada por Deus), também me utilizo de pesquisas arqueológicas e históricas para narrar abaixo parte do registro da vida de alguns personagens. De certa forma, tentando cristalizar e buscar a veracidade de algumas cenas ou momentos da obra.

Estarei abordando quatro importantes tópicos sobre os personagens centrais do filme, veja abaixo:

O Precursor

Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João o Batista; mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele. Mateus 11:11

Conforme relatado no original do Evangelho de Lucas na Bíblia¹, João era filho do sacerdote Zacarias e de Isabel. Ela era parente de Maria, mãe de Jesus, e ambas estavam grávidas na mesma época com diferença de seis meses uma da outra. Em traduções posteriores do evangelho e até mesmo na tradição histórica afirmam que elas eram primas em primeiro grau. Logo, João não pode ser muito mais velho que Jesus e ambos eram parentes ou primos. O significado de seu nome “Deus concede a Graça”, e seu posterior Batista dá-se no momento em que ele começa a batizar por imersão aqueles que se convertiam a sua mensagem.

João foi dedicado a Deus e ao sacerdócio como nazireu desde o nascimento, cresceu no deserto com uma vida simples baseada nos antigos profetas. Este deserto se refere a uma vasta área entre a região do Mar Morto e as montanhas da Palestina. Provavelmente, ele, começa seu ministério aos trinta anos por ser um filho da tribo de Levi. Ainda, deduz-se que João (sendo uma forte possibilidade) foi criado em meio aos essênios. 

Conforme os relatos do historiador Flávio Josefo, ex-sacerdotes fundaram o movimento dos Essênios no deserto do Mar Morto, sendo eles os possíveis escribas dos Manuscritos do Mar Morto. Estes homens eram encurvados pelo espírito, ou seja, humildes de espírito. Suas roupas eram simples e eram adeptos do banho para renovar o espírito, batismo. Este tipo de roupa e ação são usadas por João. Em Mateus 11:11, Jesus dá uma interessante definição sobre o profeta. O profeta passou pregando ao longo do rio Jordão, próximo a grandes centros, sua pregação exercera tão profunda influência sobre o povo, que chamara a atenção das autoridades religiosas.

Ao tempo de João Batista, a cobiça das riquezas e o amor do luxo e da ostentação se haviam alastrado. Os prazeres sensuais, banquetes e bebidas, estavam causando moléstias e degeneração física, amortecendo as percepções espirituais, e insensibilizando ao pecado. João devia assumir a posição de reformador. Por sua vida abstinente e simplicidade de vestuário, devia constituir uma repreensão para sua época². O temor das autoridades sobre a influência das palavras de João era muito grande, pois temiam uma rebelião do povo sobre seus corruptos governantes. Herodes Antipas precisava eliminar João a lamentar posteriormente as revoltas que João pudesse alimentar. Batista é preso na fortaleza de Maqueronte onde é executado³.

Alguns pontos contrários a história do filme: Antipas não terminou por matar seu pai Herodes o Grande (não há nenhuma evidência histórica quanto a este fato); as acusações de João Batista ao rei idumeu Herodes Antipas são reais; a filha de Herodes era na realidade sua sobrinha e uma das responsáveis direta na morte do levita; João não era muito mais velho que Jesus e também não recebeu a visita de Jesus quando estava preso; o menor dos profetas havia aceitado Jesus e não havia relutância, mas a necessidade da confirmação; Cristo se comunicou com seu “primo” através dos discípulos de Batista quando ele estava preso; João foi o precursor da vinda do Messias.

Os Vilões

Então se realizou o que vaticinara o profeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata, preço do que foi avaliado, que certos filhos de Israel avaliaram Mateus 27:9

A história humana castigou alguns nomes por sua imagem pública vergonhosa e por dignidade humana, mesmo que o significado do nome seja bonito, não batizamos nossos filhos com este. Um exemplo histórico é o nome Judas com sua origem hebraica e seu significado bonito que é “exaltado, ou abençoado, ou louvor a Deus”, mas que se tornou um dos nomes mais destetáveis da história e seu significado foi alterado para algo sórdido como “traidor, reprovado, detestável. Uma curiosidade é que o nome de Judas é o segundo nome do apóstolo que mais aparece nos Evangelhos da Bíblia, o primeiro é o de Simão Pedro.

Yehudhah ish Qeryoth (Judas Iscariotes). A mais autêntica evidência histórica do sobrenome, ou atribuição “Iscariotes” é sobre a origem do apóstolo. Provavelmente era nascido, ou descendia, da aldeia de Kerioth, ao sul de Hebron, na região da Judeia. Judas de fato era um dos doze apóstolos, e nenhum momento aparece nos evangelhos o seu chamado por Jesus, diferentemente dos outros onze apóstolos. Provavelmente, era o apóstolo anônimo que aparece em Mateus 8:19 “Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores”. Devido a sua educação foi lhe atribuído a função de escriba (especialista em leis judaicas que poderia exercer as funções de tesoureiro, copista, secretário e contador). Sua traição foi realizada por trinta moedas de pratas, valor que era muito comum na compra por um escravo ou um animal. Sua intenção era de apressar Jesus como Libertador do povo judeu do jugo romano, o resultado contrário de ver o seu Mestre na ignomínia e direcionado à morte foi causa de vergonha (não arrependimento), o que o levou a enforcar-se em uma árvore fora da cidade. Como era Páscoa, ninguém ousou mexer no corpo, logo o corpo fedia e foi devorado por animais.

Barrabás, significa “filho do pai”. Provavelmente ele pertencia a um partido judeu contrário a dominação romana. Partido que fazia incursões de resistência ou milicianas contra os romanos, logo, Barrabás poderia ser um ladrão, assassino e conspirador, tudo o que a história lhe atribui. No entanto, não há nenhuma evidência histórica que remeta a Barrabás e Judas estarem conspirando juntos, ou seja, o enredo do filme Reis dos Reis é uma forma de politizar, protagonizar ou evidenciar uma ligação entre os dois. Outro fato, Jesus foi colocado por Pilatos ao lado de Barrabás para que o povo escolhesse a quem libertar, respeitando uma tradição, o povo clamou por Barrabás, determinando o destino de Cristo e o seu como povo. Cumprindo-se assim as profecias escritas no Antigo Testamento. Quanto a Barrabás, historicamente nada se sabe sobre sua vida após o seu livramento da cruz.

Os Governantes

E no ano quinze do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos presidente da Judéia, e Herodes tetrarca da Galiléia, e seu irmão Filipe tetrarca da Ituréia e da província de Traconites, e Lisânias tetrarca de Abilene, Sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias. Lucas 3:1,2

O filme começa muito antes de Pilatos com a afirmação do reino da Judeia pelo rei cliente de Roma, Herodes o Grande, pai de Herodes Antipas. Sua corte era helenizada e culta. Esta família de diversos Herodes não era bem quista pelos judeus, o que era sabido pelos romanos, eles sofreram em seus governos com as inúmeras revoltas civis até serem destronados. Herodes o Grande foi quem recebeu a visita dos Reis Magos e determinou a morte dos primogênitos. Com sua morte, enfeitada pelo filme como sendo assistida e desprovida de socorro pelo seu filho Antipas, o reino foi repartido entre seus filhos Herodes Arquelau, Herodes Antipas e Herodes Filipe. Entretanto, na época do ministério de Jesus, Antipas era o rei que governava a Galileia e a Pereia, e era casado com a ex-esposa do seu meio-irmão Filipe (não o Herodes Felipe), Herodias (neta de Herodes o Grande), mãe da dançarina Salomé. A sobrinha de Antipas foi uma das responsáveis diretas no pedido pela decapitação de João Batista.

A constante incompetência dos Herodes Arquelau para governar a Judeia foi determinante para Roma eleger prefeitos (procuradores de Roma) para governar a região e depor Arquelau de seu governo. Pôncio Pilatos era o segundo governador da região. A comprovação histórica, além da Bíblia, pode ser vista nos relatos dos historiadores Filon de Alexandria4 ou Flávio Josefo, nas moedas cunhadas da época com o selo de Pilatos e a Pedra de Pilatos encontrada em 1963. Não se sabe ao certo se a esposa Cláudia Prócula seguia Jesus em suas pregações, o que não seria bem visto para um romano, mas é relatado que ela recebeu um sonho sobre Jesus e pediu a Pilatos para se abster de julga-lo. 

Pilatos, conforme os relatos históricos de Filon e Josefo, era um déspota sanguinário. Em Lucas 13:1, o sangue galileu havia sido derramado na hora dos sacrifícios do templo. Provavelmente, é o evento que torna Pilatos mais tolerante com a multidão e o faz lavar as mãos no julgamento de Cristo. A morte dos galileus também é a provável causa da inimizade entre Antipas e Pilatos, que acabaria com o gesto de Pilatos enviando Jesus para ser julgado por Herodes.  Em determinado momento o filme mostra um oficial romano (Lucius) como promotor de defesa de Jesus, não há relatos históricos que comprovem tal fato. Havia uma necessidade dos governantes Herodes, Pilatos, Anás e Caifás, abafar ou aniquilar a voz daquele que chamavam de Messias. Tal fato é levado em consideração nas duas cortes e pesa na condenação de Cristo. A derrota de Pilatos não tardaria, após o genocídio gratuito de Gerizim foi exonerado de seu cargo no ano 36 e enviado em desgraça a Roma. Um fim parecido ocorreria com Antipas três anos depois. A tradição e os relatos históricos do século II por Orígenes5 é de que a esposa de Pilatos se tornou cristã. Mas a pergunta do líder romano perpetuou os séculos: “O que é a verdade?”.

O Mestre

Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo. Mateus 23:10

Um dos pontos mais altos do filme é o Sermão da Montanha pregado pelo Messias, representado de forma esplêndida, realmente tocante e emocionante. A entrada triunfal do Rei dos Reis em Jerusalém remete a grandiosidade da realeza do Sábio Mestre que seria preso pelas mãos de um mal-intencionado discípulo e traidor. Sem esquecer os interessantes breves momentos da ceia e do Getsêmani, ou o diálogo de Cristo com Maria. Todo o julgamento, apesar de imaginativo e poético, é interessante de ser visto além da via dolorosa e a crucificação.

A crucificação foi provavelmente criada na Pérsia e trazida para o Ocidente por Alexandre. Este tipo de execução era destinado (usando um exagero gramatical) a pior das piores das escórias. Para um romano ou grego era melhor o suicídio do que a morte pela cruz. Entenda, a cruz era destinada aos bandidos, escravos, rebeldes e a quem mais os romanos quisessem ou achassem que deveria. As mulheres pregadas na cruz eram crucificadas de costas ou tinham as partes íntimas tapadas, outro exemplo na Terceira Revolta Servil o derrotado Gladiador Espártaco foi crucificado juntamente com mais seis mil pessoas ao longo da via Alpia. Milhares de judeus foram crucificados por não se submeterem as ordens de Roma. Diversos mártires cristãos morreram na cruz pelas mãos de Roma ou por imperadores espalhados pelo globo que achassem que assim deveriam agir.

Jesus de fato existiu ou é um mito? Diversos historiadores relatam a existência de Jesus, inclusive de sua ressurreição. Pela arqueologia há diversas provas que remetem as histórias em torno do Messias. Outra evidência é que ele possuía seguidoras além de seus seguidores, e não era casado. Também, Ele, Jesus cumpriu em vida, morte e ressurreição, todas as profecias do Velho Testamento da Bíblia que abordavam estes acontecimentos futuros. Muitos documentos históricos ou peças arqueológicas de valor representativo a uma personalidade da antiguidade são difíceis de se achar, muitos foram destruídos ou se perderam com o tempo dificultando a historicidade entorno de tal figura histórica. Então, vejamos alguns relatos fora da Bíblia sobre a existência do personagem real Jesus de Nazaré.

  • Flávio Josefo, por volta do ano 90 d.C, define Jesus como um homem sábio, mais que um mero homem que fez obras extraordinárias. Condenado e crucificado por Pilatos devido as acusações de chefes judeus, morreu e ressuscitou ao terceiro dia. Seus seguidores são chamados de cristãos e eles o consideram o Messias.
  • Outro relato de Josefo aborda o golpe de estado pelo Sumo Sacerdote Anã (Anás). Este convocou uma assembleia de juízes que julgou e condenou ao apedrejamento Tiago o irmão de Jesus, o Messias dos judeus.
  • Tácito, historiador romano, relata o tirânico incêndio de Roma como sendo mandado pelo Imperador Nero. Nero culpou e mandou matar os cristãos, seguidores de Jesus que foi condenado ao suplício por Pilatos na época de Tibério. Os cristãos foram pregados em cruzes e usados como tochas à noite.
  • Suetônio, outro historiador romano, comenta a expulsão no ano 49 dos judeus de Roma e a relação de alguns deste com um certo Cristo.

“Aqui está um homem que nasceu em uma vila obscura de uma mulher da classe trabalhadora. Ele cresceu em outra aldeia; trabalhou em uma oficina de carpintaria e, aos 30 anos, começou uma carreira como pregador itinerante. Nunca escreveu um livro, nunca teve uma família, até onde se saiba ele nunca foi para a faculdade nem teve grandes conexões ou viajou mais de 200 km de casa. E ainda assim…não temos outro mestre que tenha tão completamente eliminado o trivial, o falso de ensinamento, que selecionou apenas o eterno e o universal e os combinou em um ensino onde todas as grandes verdades encontram um lar agradável no coração dos homens” – Anônimo Cristão.

Acredite ou não, os fatos relatados acima de todos os personagens envolvidos nesta história do Rei dos Reis são historicamente verídicos. E tratados aqui da forma mais respeitosa possível. Vale apena olhar este épico do cinema, ler a história de Jesus nos Evangelhos da Bíblia, ler O Desejado de Todas as Nações e pesquisar os fatos históricos que circundam a história do Reis dos Reis.

Enfim, Jesus é de natureza incomparável, um ser sem igual. Jesus de Nazaré não foi um mito, ou teve existência duvidosa ou não histórica, não foi o criador de uma seita ou um mero pregador. Ele realmente existiu e é considerado o Messias de toda a cristandade, e o Messias negado pelos judeus. O meu e o seu Rei dos Reis.


Conheça mais sobre o épico Reis dos Reis.

Bibliografia

* Os quatro Evangelhos da Bíblia;
1. Lucas Cap.1; 2. O Desejado de Todas as Nações; 3. Relatos baseados nas obras de Flávio Josefo; 4. Escritos de Filon de Alexandria; 5. Escritos de Orígenes; 6. Recomendo os programas e livros do arqueólogo e historiador Rodrigo Silva, fonte preciosa na pesquisa acima.
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