FILME | Rei dos Reis (1961)


Retratar Jesus no cinema nunca será fácil, não há homem algum que poderá fazer isso. Porém, há certos filmes e atores que interpretarem o Príncipe da Paz e conseguirem ganhar destaque por sua bela obra. Este filme é um fascinante épico e clássico sobre a vida de Jesus de Nazaré. Com uma abordagem político-social sobre a Galileia, um filme realizado na época áurea dos épicos bíblicos com o intuito de agradar todos os públicos. Uma obra cinematográfica obrigatória sobre a temática da Páscoa Judaico-cristã e sobre a vida de Jesus, também está entre as melhores do repertório do diretor Nicholas Ray. O primeiro filme a seguir a linha do nascimento até a morte de Cristo e a primeira produção de som a oferecer ao público o rosto de Jesus e Ele como personagem central.

Foi filmado na Espanha do ditador Franco, pois o ele cobrava mais barato e oferecia suas hordas militares para servirem de figurantes, e foram milhares. Acontece que Jesus parece ser o personagem secundário nesta obra de 2h e 48 min, existem tantas tomadas que ocupam mais tempo em cena que propriamente o Cristo. Judas é um sujeito político e bem-intencionado porque trava uma relação de liderança entre os rebeldes de Barrabás e ao mesmo tempo almeja ver o seu Mestre como o libertador de Israel do jugo romano. O arrogante Pôncio Pilatos e o imoral Herodes Antipas ocupam o tempo entre seus pensamentos e artimanhas políticas. Lucius é o cinturão romano, espia e advogado que sente seu coração ser tocado por Jesus, juntamente com Cláudia, a mulher de Pilatos.

Há alguns fatos históricos contraditórios e perdidos, melodramáticos no filme e outros fiéis a história. Um dos pontos mais altos da obra é o Sermão da Montanha pregado pelo Messias, representado de forma esplêndida, realmente tocante e emocionante. Jesus encontra-se em meio a morros desertificados repletos de curiosos e ouvintes carentes de sua mensagem, é interessante como a cena é construída sobre um debate de perguntas gritadas em meio à multidão e respondidas em tom alto e proverbial (vide cena abaixo). A entrada triunfal do Rei dos Reis em Jerusalém remete a grandiosidade da realeza do Sábio Mestre que seria preso pelas mãos de um discípulo mal-intencionado, hipócrita, ladrão e traidor. Sem esquecer os interessantes breves momentos da ceia e do Getsêmani, ou o diálogo de Cristo com Maria. Todo o julgamento, apesar de imaginativo, é interessante de ser visto além da via dolorosa e a crucificação.

A construção dos fatos históricos desde a abertura do filme remete a época da ocupação romana na região e Herodes o Grande, mostrando o contexto histórico e político, até a morte de Jesus, é um dos grandes acertos. Faz falta diversas partes contidas nos evangelhos bíblicos sobre os milagres, a paixão de Cristo, até mesmo o Sermão da Montanha carece por estar fora de ordem, faltar partes e de ser imaginativo. A eficácia da ótima trilha sonora de Miklós Rózsa é inegável, digo o mesmo dos visuais simples da obra, porém elegantes de Ray. A produção peca pela falta de continuidade, lutas editadas e cenas não coordenadas, o pouco realismo e a falta de credibilidade em algumas cenas ou momentos históricos. Alguns dos filmes sobre Jesus que vieram após o Rei dos Reis se basearam nestes erros para corrigi-los em suas produções.

Ray era muitas vezes considerado um diretor marginal, contudo para esta megaprodução traz no protagonista Jesus um pouco das características dos personagens de sua filmografia. O Messias é um protagonista que deveria ser respeitado por seu intérprete Jeffrey Hunter, tendo ele uma vida pessoal tranquila e sem manchas. Não foi diferente com todo o elenco que deveria respeitar uma cláusula contratual de não beber, fumar ou aparecer em certos lugares duvidosos em público, durante a produção e o pós-produção. Hunter deveria passar na figura de Jesus serenidade, calma, paz, bondade, demonstrando estar acima dos outros mortais. O ótimo João Batista com suas vestimentas que remetem ao profeta Elias, tem seu diálogo com Herodes e Salomé baseado na obra Salomé de Oscar Wilde. O enredo do filme baseia-se, principalmente, nos quatro evangelhos da Bíblia e na obra do historiador romano Tácito. O filme e sua produção possuem erros e acertos, têm diversas curiosidades sobre sua composição estrutural e pessoal. A obra para muitos envelheceu mal e não valeria ser assistida novamente, no entanto, para outros continua sendo uma referência entre os filmes bíblicos. Me incluo no último grupo, o épico foi construído em uma época com um cinema diferente do atual, é uma ótima opção de filme para a família e está entre os melhores para esta época da Páscoa Cristã, um alento para este período de isolacionismo social. No entanto, cada obra histórica deve ser analisada durante ou após em uma contextualização historicista na busca da veracidade dos fatos.

Conheça mais sobre o Contexto Histórico do épico Rei dos Reis.

Boa Páscoa!

Rei dos Reis (King of Kings), EUA, 1961
Direção: Nicholas Ray
Roteiro: Philip Yordan
Gênero: Biografia, Drama, História
Duração: 165 minutos.
Elenco: Jeffrey Hunter, Hurd Hatfield, Siobhan McKenna, Rony Randell, Robert Ryan, Harry Guardino, Rip Torn, Frank Thring, Brigid Bazlen, Viveca Lindfors, Rita Gam, Carmen Sevilla, Royal Dano, Gregoire Aslan, Maurice Marsac, Gerard Tichy e outros.

Postagem Anterior Próxima Postagem