Os Dez Mandamentos (1956)



Após 33 anos de Cecil ter feito o épico mudo e homônimo de grande sucesso, traz esta nova produção baseada nos livros dos reverendos J.H. Ingraham (Pillar of Fire), A.E. Southom (On Eagle’s Wing), e da escritora Dorothy Clarke Wilson (Prince of Egypt), e parcialmente na Bíblia. Desde a ida de José e seu pai Jacó, juntamente com seus filhos e suas famílias, para a terra de Gósen no Egito passaram-se quase 400 anos até o nascimento de Moisés (Há indícios arqueológicos que contradizem este argumento de 400 anos, podendo ser menos, conforme dados do arqueólogo Dr. Rodrigo Silva). O povo de Israel  se multiplicou e espalhou-se por Gósen e todo o território egípcio, o que causava grande temor nos egípcios, a solução foi escravizar o povo hebreu e proibir o nascimento de bebês do sexo masculino, se nascessem deveriam ser mortos. Um casal da casa de Levi, Anrão e Joquebede, tiveram um filho, em vez de matá-lo o puseram na água dentro de um pequeno cesto de juncos tornando-o impermeável por meio de betume e piche. O cesto desceu as águas do rio passando pelo local onde a filha do faraó estava, ela pegou o cesto e encontrou o menino, adotou e o chamou pelo nome egípcio de Moisés.

Enquanto o povo de Israel estava sob o chicote e um pesado jugo, Moisés era criado como um príncipe. Na corte de Faraó, Moisés recebeu o mais elevado ensino civil e militar. O rei resolvera fazer de seu neto adotivo o seu sucessor no trono, e o jovem foi educado para a sua elevada posição. E Moisés foi instruído em toda a ciência dos egípcios; e era poderoso em suas palavras e obras. Sua fuga do Egito dá-se após ter matado um oficial de alto escalão, refugia-se no deserto na casa Jetro, sacerdote de Midiã e futuramente seu sogro. Quando apascentava ovelhas próximo ao Monte Sinai, Deus o chama e o incube de uma missão: Libertar seu povo.

Este filme é um campeão de bilheteria, um épico de sucesso, uma grandiosa obra cinematográfica em sua produção e duração, um filme cristão, dirigido pelo cineasta Cecil B. DeMille. A obra conta uma história atemporal que perdura os milênios. Até hoje é o campeão de bilheteria entre os filmes cristãos, seus valores totais reajustados para valores atuais de bilhetes passam de 1 bilhão de dólares apenas nos Estados Unidos.

O épico surgiu com a intenção de inspirar os homens a serem almas livres sob Deus e não propriedades do estado. Apesar de o roteiro ser romanceado a intenção era para que a história fosse divinamente inspirada representando o que ocorrera a mais de três mil anos. A obra possui efeitos especiais e fotografias excelentes; uma trilha sonora marcante composta por Elmer Bernstein; ótimas atuações e; relevância histórica. O filme está classificado entre os maiores clássicos e foi produzido na era áurea dos épicos do cinema.

O filme possui muito mais cultura que se possa imaginar é impossível não olhar e ficar impressionado com toda a história que é apresentada. Moisés é interpretado por Charlton Heston e Ramsés II por Yul Brynner. 

Veja mais algumas curiosidades sobre a produção:

  • A vida de Moisés é retratada desde o seu nascimento até sua morte;
  • O som de trombeta dos hebreus quando eles partem do Egito também foi ouvido no Episódio VI de Guerra nas Estrelas;
  • Cecil B. DeMille: foi um dos fundadores da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas; é um dos pioneiros do cinema americano; produziu 70 filmes de 1913 a 1956; O filme Os Dez Mandamentos é seu último filme e é um dos cineastas cristãos mais importantes;
  • Na época, o filme foi muito apreciado por cristãos e judeus;
  • Um dos poucos filmes que teve autorização das autoridades egípcias para as filmagens em seu território nacional.

Alguns fatos históricos relevantes que se encontram diferentes no roteiro deste épico.

  1. Moisés foi criado por uma ama de leite, até aproximadamente os doze anos. Neste caso, a sua própria mãe Joquebede. As lições aprendidas ao lado de sua mãe, não as esquecia. Eram uma proteção contra o orgulho, a incredulidade e o vício, que cresciam por entre os esplendores da corte faraônica (trecho do livro Patriarcas e Profetas).
  2. Diferente do filme Moisés sabia suas origens e cria no Deus único. Sua vontade era de libertar seu povo pela força, pela guerra. Sua fuga ao deserto por onde viveu por quarenta anos fez amansar o seu espírito. A sua vida de cento e vinte anos se divide em três etapas de quarenta anos cada. A primeira no Egito até sua fuga, a segunda no deserto até seu retorno; e a terceira da saída do Egito até sua morte no deserto.
  3. Sua grandeza intelectual o distingue, acima dos grandes homens de todos os tempos. Como historiador, poeta, filósofo, general de exércitos e legislador, não tem par. Todavia, com o mundo diante de si, teve a força moral para recusar as lisonjeiras perspectivas da riqueza, grandeza e fama, “escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado” (trecho do livro Patriarcas e Profetas). Tanto é que o Pentateuco (ou Torá para os Judeus) que são os cinco primeiros livros da Bíblia foram escritos por Moisés e historicamente atribuem grande reconhecimento ao autor pelo conhecimento aprofundado da cultura egípcia. O que é nítido na escrita do texto.
  4. O nome Moisés vem de Mose ou Moses é um patronímico que remete ao faraônico comum da 18º dinastia, cujo faraó era Tutmoses. Logo, era o avô de Moisés e não Ramsés I.
  5. Seu “irmão” ou primo no filme não poderia ser Ramsés II, pois os faraós derrotados tinham seus nomes apagados dos escritos ou apagavam os registros quando a verdade se mostrava embaraçosa (no caso de uma derrota vergonhosa). Na época de Ramsés II o povo hebreu já era constituído como nação e em seu êxodo ainda não existia a nação hebraica. Conforme a arqueologia e o livro da Amduat, o faraó que morreu afogado no Mar Vermelho é Tutmoses III.
  6. O Monte Sinai visto por Moisés no filme com uma continua nuvem não existia. O monte visto é o Monte Horebe (ou Sinai) e Deus só se manifestaria visualmente para Moisés através da sarça ardente. Muitos historiadores consideram os montes Sinai e Horebe como sendo o mesmo monte e outros ditam que provavelmente eram montes diferentes. A localização do Horebe atualmente não é sabida, a do Sinai sim.
  7. O número aproximado dos hebreus que saíram do Egito fora de dois a três milhões de pessoas entre homens, mulheres, crianças e outras pessoas de povos diferentes ou egípcios que os acompanharam ao deserto.
  8. As ombreiras das portas pintadas com sangue do cordeiro representavam a dependência de Deus, em contraste com os umbrais das portas egípcias que refletiam a vida após a morte. A mãe egípcia de Moisés, filha do faraó, já estava morta e não seguiu com o povo hebreu para o deserto. A nuvem ou poeira que toma o Egito buscando os primogênitos egípcios é no real o anjo destruidor enviado por Deus.
  9. A história conta que Moisés vendo um egípcio ferir um israelita, lançou-se para a frente, e matou o egípcio. A não ser o israelita, não houvera testemunha desta ação; e Moisés imediatamente sepultou o corpo na areia. Logo, após fugiu e não foi preso e expulso como consta no filme. Ainda os roteiristas aproximam Josué de Moisés, o que não é real. Josué se tornaria um líder depois do retorno de Moisés.
  10. Os Faraós eram a representação de um pastor, o representante da divindade, um guia para o povo, por isso muitos são representados em imagens segurando uma vara e o cajado. O simples cajado de Moisés usado para ser pastor de ovelhas quando vira uma serpente e engole as duas serpentes (vara e cajado) mostra a representação do domínio de que estava traçado.

Enfim, historicamente há alguns pontos questionáveis. Os contrapontos acima estão baseados na história do povo judeu e cristão (Torá, Bíblia, livros históricos e científicos, evidências arqueológicas (cito também o Programa Evidências do arqueólogo Rodrigo Silva)). No entanto, este épico continua sendo um grandioso filme cristão que marcou a história do cinema.



  •  

Os Dez Mandamentos (The Ten Commandments), EUA, 1956
Direção: Cecil B. DeMille
Roteiro: Eneas McKenzie, Jesse Lasky Jr., Jack Gariss e Fredric M. Frank, baseado nos livros de J.H. Ingraham, A.E. Southom e Dorothy Clarke Wilson.
Gênero: Aventura, Drama, Épico
Duração: 220 min
Elenco: Charlton Heston, Anne Baxter, Yul Brynner, Edward G. Robinson, Yvonne De Carlo, Vincent Price, Richard Farnsworth, Debra Paget, John Derek, Cedric Hardwicke, Nina Foch, Martha Scott, Judith Anderson, John Carradine, Olive Deering, Douglass Dumbrille e Robert Vaughn e outros.

Postagem Anterior Próxima Postagem