Hollywood e o Apocalipse



Aos 18 anos descobri como alguns filmes impactam a espiritualidade e podem influenciar as decisões. Isso aconteceu durante a exibição do filme A Vitória Final [1], que assisti em uma Igreja Adventista. O filme retratava os desafios e lutas daqueles que viverão nos últimos dias antes da volta de Jesus. Creio que Deus usou esse filme para falar comigo e me despertar para o tempo em que vivemos.

Isso ocorreu há muito tempo, mas ainda hoje sinto os efeitos do filme. Nesse artigo conversaremos sobre o poder dos filmes que falam sobre o fim do mundo ou os filmes apocalípticos. Também discutiremos como as produções de Hollywood assumiram uma função que antes era das igrejas e como isso tem influenciado a compreensão da teologia bíblica.

Os filmes e o Apocalipse

A indústria cinematográfica de Hollywood tem a finalidade de produzir filmes que magnetizem a atenção das pessoas. Embora o interesse principal seja gerar lucro, a disseminação de conceitos para influenciar a sociedade também faz parte dos objetivos. Os produtores de filmes estão longe de ser ingênuos e possuem uma visão muito clara do que querem transmitir[2].

Talvez seja por esses motivos que os filmes apocalípticos são tão populares. Eles estão entre os que levam mais pessoas aos cinemas e são campeões de bilheteria[3]. Esse fato revela que talvez Hollywood tem pregado mais sobre o fim do mundo do que as igrejas cristãs. O problema é que isso está sendo feito com a teologia errada.

Os filmes apocalípticos, além de entreter com seus efeitos especiais, também desafiam a igreja e sua teologia. Um típico filme sobre o fim do mundo geralmente tenta rejeitar tanto as abordagens convencionais sobre a vida e suas soluções quanto tentar reformular as ideias que temos sobre o final dos tempos[4].

Dois grupos

Basicamente existem dois grupos de filmes sobre o fim do mundo: os pré-apocalípticos e os pós-apocalípticos. Os pré-apocalípticos são mais frequentes e geralmente descrevem eventos que ameaçam a vida futura do planeta. Os pós-apocalípticos lidam com os eventos depois da destruição do mundo que conhecemos.

Nos filmes pré-apocalípticos, as ameaças ao planeta podem ser diversas: asteroides em rota de colisão com a Terra, invasão de alienígenas ou zumbis, desequilíbrio ecológico, epidemias, anomalia cósmica, etc. Para evitar a destruição, Hollywood geralmente mostra que é necessário usar o máximo da genialidade e tecnologia humanas. A humanidade é capaz de resolver os problemas do mundo e superar os desafios da existência. Ainda que muita gente tenha que morrer, a vida prossegue. Isso é o que a maioria dos filmes pré-apocalípticos sugerem.

A secularização do mal

Nos filmes apocalípticos, a origem do mal não é satânica. O mal é apenas uma ameaça causada pelo próprio ser humano ou por obra do acaso. A origem desse mal muda com o tempo. Por exemplo, nos anos 60 os filmes apresentavam o fim do mundo como consequência de uma guerra nuclear entre Estados Unidos e a União Soviética. Na década de 80 e 90, os óvnis foram bastante responsabilizados pela destruição. Já na proximidade do ano 2000, foram enfatizadas as profecias de Nostradamus e mais recentemente do Calendário Maia, assim como o arrebatamento secreto. Recentemente, as principais causas apontadas por quem pensa assim têm sido o aquecimento global, a superpopulação, vírus e epidemias.

Um Deus ausente

Para Hollywood, Deus também não está presente no processo do fim do mundo, mas, sim, as causas naturais aceleradas pela estupidez humana. Quando Deus é citado em um filme apocalíptico, geralmente é retratado como um ser impessoal e ausente.  Na visão bíblica do Apocalipse, os justos são salvos da destruição final. Mas, na versão de Hollywood, bons e maus são tratados da mesma forma. Não é tão importante ser moralmente correto, segundo esta ótica, pois o que vai salvar a humanidade é a genialidade e heroísmo unidos com a tecnologia.

Hollywood e a teologia cristã sobre a volta de Jesus

Pesquisas concluíram que a frequência com que alguns temas aparecem nos filmes tem sido capaz de alterar as crenças e atitudes da sociedade sobre temas como gênero, sexualidade, raça e etnia, preferências políticas, incluindo crenças teológicas e espiritualidade[5].

Prova desse efeito negativo dos filmes é que até mesmo alguns cristãos estão substituindo a visão bíblica tradicional do Apocalipse pela de Hollywood. As igrejas apresentam algum tipo de dificuldade para falar que a destruição final faz parte dos planos de justiça de um Deus Todo-poderoso para eliminar o mal do mundo. Infelizmente, boa parte dos cristãos parece gostar do mundo em que vivem. Por isso, falar de um fim iminente soa como algo incoerente.

Nós, como cristãos, precisamos ter a plena consciência de que Deus, conforme a Bíblia, terminará com essa era para estabelecer um reino eterno onde não mais existirá a morte, o sofrimento e a dor. A igreja cristã, durante dois mil anos, vem pregando essa boa notícia.  Mas, se atualmente este final da história não está mais sendo ouvido dos púlpitos, então as pessoas podem estar mais vulneráveis às versões de Hollywood.

Exceto em alguns grupos religiosos, geralmente falta uma verdadeira consciência apocalíptica no pensamento cristão contemporâneo. A voz escatológica da igreja cristã ficou muda. Normalmente, continuamos a acreditar que o fim dos tempos virá, mas isto não é pregado ou ensinado com a mesma frequência que outras doutrinas. As igrejas estão ocupando seus púlpitos para ajudar as pessoas a viverem cristãmente. As mensagens focam no cuidado com os necessitados, na atenção à família, na fidelidade dos casais e outras atitudes que se espera de cada cristão. E isso tudo é muito nobre e essencial, mas no excesso desse processo o cristianismo perdeu algo. A história do grande conflito final ficou faltando.

Confusão teológica

Outro motivo que leva Hollywood ganhar mais adeptos para sua versão do fim do mundo é o de que os cristãos possuem cada vez menos conhecimento sobre a Bíblia e cada vez mais dúvidas.  A variedade de denominações e as maneiras diferentes de interpretar a escatologia bíblica tem causado grande confusão [6]. Uma pesquisa realizada em 2016 constatou que uma das cinco razões que levou as pessoas a abandonarem o cristianismo foi a “confusão teológica dentro do cristianismo”[7].

Teologia ou ficção?

Até que ponto deveríamos dar importância ao que Hollywood diz sobre o fim do mundo se entendemos que os filmes são entretenimento e ficção?  A resposta é que, ainda que não consigamos explicar com exatidão o efeito dos filmes, é impossível negar que aquilo que assistimos, de alguma forma, pode influenciar o que pensamos.

Quando alguém não possui uma sólida convicção bíblica a respeito da volta de Jesus, a versão dos filmes de Hollywood pode ocupar esse espaço. E, mais tarde, esse conceito será defendido como uma verdade e fazer parte da convicção pessoal. Os teóricos do assunto chamam isso de teoria do cultivo[8].

Os filmes têm sua relevância e podem ser usados de maneira eficaz por Deus para despertar sensibilidades espirituais adormecidas, porém eles não substituem a missão da igreja cristã de pregar sobre a volta de Jesus e o fim do mundo.

Conclusão

Voltando a minha história do início, depois que assisti o filme sobre a volta de Jesus decidi dedicar minha vida a Deus e a compartilhar com outros a mesma esperança pelo resto da vida. Possivelmente outras pessoas sentiram e ainda sentem o mesmo ao assistir ele atualmente.

Isso mostra que os filmes podem ser mais uma ferramenta para os cristãos iluminarem o mundo com a mensagem da volta de Jesus. Porém, mais que isso, revela o poder da mensagem sobre a volta de Jesus e como as igrejas precisam assumir a liderança na propagação dessa mensagem para despertar o mundo.

Aquele que dá testemunho destas coisas diz: “Sim, venho em breve!”

Amém. Vem, Senhor Jesus!

Apocalipse 22:20

Fonte: Adventistas.org

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