Qual a postura do cristão em relação ao meio ambiente?

Por Maura Brandão

Neste dia 5 de junho comemoramos o Dia Mundial do Meio Ambiente. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas em 1972 no primeiro dia da Conferência de Estocolmo sobre o Ambiente Humano. Ao criar a data, a ONU buscava levantar o debate sobre questões ambientais que vão desde o consumo sustentável até aspectos ligados ao tráfico de animais silvestres e proteção de espécies ameaçadas de extinção [1].

A pauta ambiental frequentemente é envolvida em polêmicas. Seja pelo mau uso político da plataforma, por interesses econômicos ou conceitos errôneos relacionados à Nova Era e panteísmo. Será que, como cristãos, devemos nos envolver com essas questões? Será que temos alguma responsabilidade diante de Deus em relação ao meio ambiente? “Afinal, são os governantes que tomam as decisões e não eu” – alguns podem dizer.

Meio ambiente e estilo de vida

A relação que temos com o meio ambiente desde a criação pode ser muito profunda e, às  vezes, imperceptível. Reconhecer a sua importância vai além do que apenas proteger as florestas e animais ameaçados de extinção ou fazer a separação do lixo que produzimos em casa. Estar em contato com a natureza tem influências no nosso corpo e mente.

Com o início da pandemia da Covid-19, grande parte da população mundial precisou mudar seus hábitos e passar mais tempo em casa. A palavra home office ou teletrabalho se tornou uma das expressões mais usadas pelas pessoas. Além das consequências óbvias dessa mudança de estilo de vida e rotina, tivemos de mudar nossos hábitos e infelizmente diminuímos a quantidade de tempo que gastamos fora de casa em lazer, especialmente em contato com a natureza.

Em pesquisa publicada em setembro de 2020, pesquisadores conduziram um questionário para verificar a proximidade com a natureza e sua relação com a saúde mental, no contexto do isolamento social causado pela pandemia da Covid-19, em Tóquio, Japão [2].

Os pesquisadores, então, consideraram cinco variáveis relacionadas à saúde mental: depressão, satisfação de vida, felicidade, autoestima e solidão. Os dados indicaram que o acesso à espaços verdes e a existência de janelas com “vistas verdes” estavam associados a níveis maiores de autoestima, satisfação de vida, felicidade e baixos níveis de depressão, ansiedade e solidão, sugerindo que uma “dose regular de natureza” pode contribuir para uma boa saúde mental.

Leia também: 

https://www.mundoadventista.com.br/2021/06/cientistas-adventistas-analisam-saude.html

Contato com o meio ambiente

Estar em contato com o meio ambiente nos proporciona experiências multissensoriais. Por exemplo, médicos britânicos têm receitado aos seus pacientes atividades baseadas no contato com a natureza como observações de aves e caminhadas na praia para tratar ansiedade, estresse, doenças cardiovasculares e diabetes [3]. Os sons da natureza, como o canto dos pássaros ou o barulho da água na correnteza do rio, podem ter efeito terapêutico como alívio do estresse promovendo relaxamento [4].

No entanto, para seguir usufruindo do bem-estar que a natureza pode promover é nosso papel sermos atuantes no cuidado e preservação ambiental. Tudo para que possamos ter acesso aos seus benefícios pelo maior tempo e com o máximo de qualidade. De nada adianta levantar cartazes de preserve a Amazônia ou salve as baleias, se em nossa própria casa usamos e abusamos de embalagens descartáveis, trocamos de celular a cada modelo novo e descartamos todo o lixo em um único recipiente. Cada um deve desempenhar a parte que lhe corresponde. Nossa força está na unidade.

Meio ambiente e criação

No livro de Gênesis, temos pelo menos dois momentos (Gênesis 1:27, 28 e 2:15) em que Deus dá ao homem responsabilidade importante sobre sua criação. Na Bíblia tradução NVI, os comandos são cuidar e cultivar. Algumas versões também podem citar dominar. Essas ações estão diretamente relacionadas com o nosso papel de mordomos da criação.

Mordomia não diz respeito apenas a dízimos e ofertas, mas ao dever que temos de usar os recursos naturais que nos foram dados por Deus por meio de Sua criação. Portanto, esse uso deve ser feito com responsabilidade, para que todos possam usufruir desse presente. Exercer domínio não significa ter licença para destruir ou usar desenfreadamente os recursos naturais. Deus se preocupa com a sua criação e nos deu o dever de cuidá-la [5].

A parte de cada um

Como podemos fazer a nossa parte e cumprir com a parte que nos corresponde? [6]

É importante ter acesso à informação, mas informação de acordo com a perspectiva bíblica. Amar o próximo também significa pensar na herança que estamos deixando para os nossos filhos especialmente em relação às nossas atitudes, colocando essas informações em prática. Ensinamos, especialmente pelo nosso exemplo.

Reflita sobre a forma como você consome os recursos. Sempre que possível, repense, reduza, reuse, recicle, recuse. Enquanto escova os dentes, feche a torneira; reaproveite a comida na medida no possível; substitua as lâmpadas da sua casa por aquelas que são mais econômicas; tenha sacolas reutilizáveis, evitando assim o uso de plástico; use o transporte público ou pegue carona com os amigos.

Mude seu estilo de vida. Considere diminuir o consumo de carne ou se torne vegetariano. De acordo com informações da Water Education Foundation, para produzir meio quilo de carne bovina são gastos mais de 11 mil litros de água. Por outro lado, para produzir uma cabeça de brócolis, são usados 50 litros [7]. Assim, você cuida da sua saúde e, também, preserva o meio ambiente.

Transmitir este conceito

Transmita essas informações para as pessoas que estão ao seu redor. Trabalhe com os seus alunos, filhos, vizinhos, desbravadores, aventureiros de forma que eles possam ter acesso às informações de forma atraente usando dramatização, tecnologia, arte e metáforas. Faça um projeto e leve o clube de desbravadores, aventureiros, classe da Escola Sabatina para plantar árvores em algum parque ou praça da sua cidade ou para limpar a praia se você mora no litoral.

Pode parecer pouco, mas faz diferença. Cuidar da natureza, estar em contato com a criação e contemplá-la, é um privilégio e uma responsabilidade que nos foi dada por Deus – Gênesis 9:9-10, 12-17; Oséias 2:18. É meu e o seu papel sermos mordomos fiéis.

Referências:

[1] https://www.worldenvironmentday.global/pt-br/sobre/dia-mundial-do-meio-ambiente-cinco-decadas-de-acao-ambiental

[2] Soga, M., M. J. Evans, K. Tsuchiya, and Y. Fukano. 2021. A room with a green view: the importance of nearby nature for mental health during the COVID-19 pandemic. Ecological Applications 31(2): e02248. 10.1002/eap.2248

[3] Green spaces aren’t just for nature – they boost our mental health too. Disponível em: https://www.newscientist.com/article/mg24933270-800-green-spaces-arent-just-for-nature-they-boost-our-mental-health-too/#ixzz6vjkQSOV9

[4] FRANCO, L. S.; SHANAHAN, D. F.; FULLER, R. A. A review of the benefits of nature experiences: More than meets the eye. International Journal of Environmental Research and Public Health, v. 14, n. 8, 2017.

[5] Henry Zuill. Os cristãos deveriam se preocupar com o meio ambiente? Disponível em: https://dialogue.adventist.org/pt/1452/os-cristaos-deveriam-se-preocupar-com-o-meio-ambiente.

[6] John Wesley Taylor V. Cuidar do meio ambiente: Um assunto divino e nosso também. Disponível em: https://dialogue.adventist.org/pt/2262/cuidar-do-meio-ambiente-um-assunto-divino-e-nosso-tambem

[7] https://www.watereducation.org/post/food-facts-how-much-water-does-it-take-produce.

Fonte: https://noticias.adventistas.org/pt/coluna/maurabrandao/qual-a-postura-do-cristao-em-relacao-ao-meio-ambiente/

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