Nem um i ou um til



Apesar de legalistas doentios, os escribas e fariseus se valiam das próprias tradições e casuísmo religioso para relativizar ou até anular as Escrituras. É sobre isso que Jesus fala em Mt 5:17-48. O texto é claro e não dá margem para rodeios. Jesus começa dizendo que não viera para revogar a Lei e os Profetas, mas para obedecer-lhes (v. 17), acrescentando que enquanto durassem os céus e a terra “nem um i ou um til” jamais seria tirado da lei (v. 18). 

Quem tentasse fazê-lo e assim ensinasse aos homens não entraria no reino dos céus (v. 19). A referência era exatamente aos escribas e fariseus, que eram os mestres da lei em Israel. Jesus, então, declara que se a nossa justiça não for além da dos escribas e fariseus, também não entraremos no reino dos céus (v. 20). Em seguida, Jesus ilustra o que Ele quer dizer com seis exemplos (vv. 21-48), os quais mostram muito bem como os escribas e fariseus torciam as Escrituras a fim de discaradamente adequá-las às suas conveniências pessoais. 

Alguns pensam que ao dizer “Ouvistes o que foi dito aos antigos” (v. 21; cf. vv. 27, 31, 33, 38, 43) Jesus está citando as Escrituras do AT. Grande engano! Não é assim que Jesus cita as Escrituras (cf. Mt 4:6, 7, 10; 11:10; 12:3, 5; 19:4; 21:13; etc.). Em cada um dos seis exemplos, a referência à forma como os escribas e fariseus interpretavam as Escrituras, a chamada “tradiçãos dos anciãos” (Mc 7:3, 5, 8, 9, 13), que era uma tradição oral, não escrita. Vejam os exemplos 3 e 6 (vv. 31-32, 43-48). 

Os escribas e fariseus permitiam o divórcio literalmente por qualquer motivo, bastando ao esposo dar à esposa o certificado de divórcio (v. 31), algo a que Jesus Se opôs vigorosamente por não ser isso o que Moisés escrevera (Dt 24:1-4). Os escribas e fariseus também ensinavam o ódio aos inimigos (v. 43), ao que Jesus também Se opôs porque Moisés jamais fizera tal concessão (cf. Lv 19:18). Ou seja, Jesus levava as Escrituras muito a sério. Ele condenou aqueles que não tinham compromisso com a verdade e só usavam as Escrituras para justificar sua falsa religiosidade. 

Alguma lição para nós hoje?

Pr. Wilson Paroschi, Professor de Novo Testamento (instagram)

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