Chegou a hora


Por: Celso Knoener

Através dos tempos, determinados eventos marcaram época levando as pessoas a refletir sobre a sociedade, a moralidade e a ética e suas convicções pessoais. Alguns acontecimentos eram esperados, outros vieram sem aviso prévio. Um desses, repetido anualmente e ainda lembrada hoje, é a Páscoa. O evangelista Lucas diz: E, chegada a hora, pôs-se à mesa, e com ele os doze apóstolos. Lc. 22.14

Por milhares de anos a pascoa havia sido festejada. Agora, havia chegado a última comemoração. O cordeiro de Deus deveria ocupar o lugar do animalzinho que por séculos havia morrido como símbolo. “Chegou a hora” tinha um sentido cronológico, dia e hora da Páscoa, e também um tempo histórico, o sacrifício messiânico.

No mundo de hoje, com seus inúmeros compromissos, onde o tempo é contado em minutos, estamos acostumados ao termo “chegou a hora”. Hora da aula, hora do embarque, hora de entrar no trabalho, hora da consulta, hora do casamento...

Chegou a hora também pode tomar um sentido mais amplo que o horário de relógio. Pode significar “chegou o tempo de acontecer algo”. Salomão fala de diversos fatos com época determinado para acontecer: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”, e ele enumera várias coisas acontecendo no seu devido tempo. Ec. 3.1-8 

Tenho ouvido várias pessoas dizer a frase: Nunca vi um tempo como o que estamos vivendo. Os governantes e cientistas estão procurando respostas para as crises de uma pandemia inédita. Os profissionais da saúde mental estão lidando com uma ansiedade, estresse, medo e pânico nunca vistos antes. Todos os que estamos vivos hoje nunca vimos um mundo assim. Afinal, que tempo é esse em que estamos vivendo?

Há vozes, religiosas e não religiosas dizendo que o mundo está caminhando para o seu fim. A Bíblia fala que é chegado o tempo do fim e o fim dos tempos. Paulo explica com detalhes que tempo é esse: “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela”. II Tm 3.1-5 

Em um discurso diante do senado em 17 de dezembro de 1914, Rui Barbosa disse: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.” https://pt.wikiquote.org/wiki/Ruy_Barbosa

Juntando-se às características de grande corrupção e desencorajamento moral desse tempo, vem a pandemia pela qual estamos passando. As perspectivas são sombrias: primeira onda, segunda onda, terceira onda, diversas cepas... quando vai parar? Vai parar? Antes havia os grupos de risco. Hoje a pergunta é: quem será o próximo? A vacina vai resolver?

Jesus também falou desse tempo. Ele disse: “E haverá sinais no sol e na lua e nas estrelas; e na terra angústia das nações, em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas.

Homens desmaiando de terror, na expectação das coisas que sobrevirão ao mundo; porquanto as virtudes do céu serão abaladas”. Lc. 21.25,26

O tempo presente, além de ser marcado pela maldade, pôs de quarentena autoridades e cidadãos comuns, levou para o hospital ricos e pobres, trancou as pessoas em casebres e palácios, impediu de viajar quem vai de primeira classe ou de ônibus e revelou a incapacidade dos “fazedores de milagres” de impedir a tragédia da pandemia. Medo, ansiedade e pânico fazem parte do cotidiano.

Porém, o vírus mostrou mais uma coisa: Uma igreja que tem todas as orientações para enfrentar as doenças do tempo do fim através de um estilo de vida saudável, mas está pouco mais imune que o próprio mundo. Sabe tudo que vai acontecer, ou pelo menos deveria saber, no entanto está amedrontada pelos acontecimentos.

A realidade dos fatos mostra que o povo de Deus está apenas um pouquinho melhor que a sociedade na questão da saúde física e emocional, nas relações familiares, na serenidade mental, quando deveria ser visto como destaque em todos esses aspectos.

Minha geração está se despedindo aos poucos sem ver esta igreja se levantar no mundo e brilhar como deveria nestas questões. Se alguém tem dúvida é só ver o número de perdas na pandemia e outras doenças, a ansiedade vivida por muitos, o divórcio que assola as famílias, os jovens que se desencaminham... E não estou dizendo que os que perderam a vida são culpados, pelo contrário, talvez estejam mais preparados. 

Foram consolidadas instituições, erguidos belos templos, mas do povo de Deus se espera um destaque muito maior: brilhar na sociedade pelo seu estilo de vida. De povo da Bíblia passou-se a um superficial conhecimento das Sagradas Escrituras, pouco sabendo sobre a origem, peculiaridade e propósito como Igreja. No vestuário e na música a identidade quase que se perdeu. Alguém ainda pode identificar diferenças? Será que minha geração fracassou? 

O filosofo Leandro Karnal, ateu assumido, coloca, como poucos pregadores teriam coragem de fazê-lo, a doentia realidade dos professos cristãos de hoje da seguinte forma: Vivemos a customização da fé, cada pessoa adapta a si o que quer da Bíblia. Agostinho disse que a pessoa que seleciona da Bíblia o que quer e rejeito o que não quer, na realidade acredita em si e não na Bíblia. E esta é a regra de hoje. A igreja diz isso, a Bíblia diz isso, mas eu acho que é aquilo, essa é a realidade contemporânea; o “eu” se sobrepõe a tudo. E difícil saber se a fé média das pessoas não é uma forma sofisticada de ateísmo. Eu diria, não sendo religioso, que o maior desafio dos religiosos hoje é cristianizar os cristãos. A grande questão é: como enfrentar um ambiente que formalmente é religioso e na prática é completamente egoísta, voltado para si mesmo. Como falar de Deus para quem tem Deus no carro, na casa, na camiseta, mas só não tem no coração.

Quando um ateu prega o evangelho aos cristãos, e ele menciona nominalmente adventistas e outros, e os desafia a serem coerentes com a Bíblia é tempo de uma profunda reflexão, é hora de “Laodiceia” humilhar-se e mudar. A vergonha da nudez espiritual devia levar à mudança de vida (Ap. 3.17,18)

Num momento muito difícil da história do povo judeu, na conversa de Mordecai com sua sobrinha Ester, rainha do império persa, ele disse: e quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino? Et 4.14

É hora de fazer a diferença. Levante-te e resplandece, disse Isaías, porque vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti; porque eis que as trevas cobriram a terra, e a escuridão os povos; mas sobre ti o Senhor virá surgindo, e a sua glória se verá sobre ti. Is. 60.1,2

Que seria “a glória do Senhor nascendo sobre ti” em uma clara oposição às “trevas sobre os povos”? A glória de Deus é o que Ele quer fazer por seu povo: um povo saudável, famílias abençoadas, paz e confiança mesmo em meio às provações, um absoluto contraste entre seu estilo de vida e o estilo de vida ensinado e praticado pelo mundo. É o Seu caráter visto nas pessoas que se dizem cristãs. O evangelho deve sair da camiseta, dos adesivos no carro, da teoria e ir para a prática. A diferença deve ser ouvida nas músicas, vista no vestuário, vivida na castidade, na alimentação, na saúde, na honestidade, na oração e na fé, na paz de espírito, na esperança quanto ao futuro.

- Chegou a hora de viver o que a bíblia ensina e não o que eu acho que ela devia dizer.

- Está na hora de tirar o “eu” do trono e deixar Deus governar a vida.

- Chegou o tempo de praticar as orientações que Deus deu para o tempo do fim através de seus profetas (II Cr. 20.20) e não achar que somos modernos demais para o estilo de vida por eles proposto.

- Chegou a hora de levantar-se e brilhar em meio às trevas desse mundo, mostrando que há uma saída: obediência aos mandamentos e princípios divinos e preparo para a vinda de Cristo.

- Chegou o momento de mostrar tranquilidade, paz e coragem a um mundo amedrontado e em pânico.

- Chegou a hora de o mundo ver a diferença que há entre você e ele.

Deus chama cada cristão para ser geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido, para anunciar as virtudes daquele que o chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz. I Pe. 2.9

Em uma de suas celebres frases, professor Orlando Rubem Ritter (1924-2020), ícone da educação adventista, dizia: “Diferença que não faz diferença, não é diferença”. O cristianismo de muitos cristãos hoje não passa de placebo, luz incapaz de espantar as trevas, absolutamente ineficaz em seu testemunho. Chegou a hora de mudar.

A diferença deve ser da noite para o dia. Deve saltar aos olhos assim como um holofote brilhante se destaca na escuridão da noite. 

E tudo isso deve ser vivido para mostrar o que Deus faz, a virtude divina, Seu amor pelo ser humano e desejo de salvar cada pessoa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. Mt. 5.16

Chegou a hora de brilhar por Cristo.


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