Ela ficou em último lugar. Mais de 5 segundos atrás da primeira colocada. Saiu sorrindo da piscina. Celebrando a melhor derrota olímpica. Vencedora absoluta. Não importava o pódio, o ouro estava garantido. Pois quem nada pra salvar a vida sabe que nada mais importa.
Yusra Mardini, há 6 anos, trocou a piscina pelo mar. O Mediterrâneo. Fugindo da Síria entrou num barco sem furo, mas com gente demais. Desespero. O motor não resistiu. Entre morrer à deriva, ou lançar-se nas águas, o instinto de sobrevivência gritou mais alto. Por 3 horas, ela e sua irmã empurraram a embarcação até a Grécia. Salvaram outras 18 vidas. Podiam ter nadado por si, só que a grandeza fez da solidariedade um resgate prático.
No dia inaugural das Olimpíadas de Tokyo, o heroísmo bateu um recorde. Membro da exclusivíssima “delegação de refugiados”, Yusra encantou o mundo nadando borboleta. Além de uma modalidade linda pela sincronia de braços e pernas, exige-se uma força extraordinária. Ela foi, deu conta, concluiu a prova, sabia que já era medalhista.
“Se os refugiados tiverem orgulho de mim, é o que importa!”, eternizou a atleta sob aplausos. As lutas da vida reposicionam o verdadeiro valor das coisas. “Ele dá força ao cansado, e multiplica as forças ao que não tem vigor”(Is.40:29). Até quando desperdiçaremos o que vale pela vala? Superfaturamos o que passa sem reconhecer o que conta. Até Yusra esfregar na nossa cara a vastidão de uma existência forjada na superação.
“Posso todas as coisas naquele que me fortalece”(Fp.4:13). Essa é a medalha no peito de todos nós refugiados do lado de cá do Céu. Nossa olimpíada? “Prossigo para o alvo, prêmio da soberana vocação de Deus em Jesus”(Fp.3:14). Não há Terra Firme além do nosso fôlego levado ao extremo. Porque existe vitória possível aos nascidos neste mundo de impossíveis.
Se as galáxias nos observam, encaremos as águas dispostos a dar tudo de nós. Até e para Ele - nosso Refúgio eterno. Nadando, correndo, ou rastejando, o importante é chegar. No drama da experiência cristã, posição não está acima de concluir a prova.
Todos vencedores. Eu e você.
Pr. Odailson Fonseca (Instagram)